Experimentação do álcool entre adolescentes brasileiros segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar

Experimentation with Alcohol among Brazilian Adolescents According to the National School Health Survey

Experimentación con el alcohol entre adolescentes brasileños según la Encuesta Nacional de Salud Escolar

Elisangela Antonio de Oliveira Freitas , Mariano Martínez Espinosa

Experimentação do álcool entre adolescentes brasileiros segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar

Universitas Médica, vol. 65, 2024

Pontificia Universidad Javeriana

Elisangela Antonio de Oliveira Freitas a

Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil


Mariano Martínez Espinosa

Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil


Recepção: 21 Fevereiro 2023

Aprovação: 02 março 2023

Resumo: Introdução: A experimentação de bebida alcoólica pelos jovens brasileiros, além de prejudicar o desenvolvimento cerebral, também interfere nos aspectos psicológicos, interferindo na sua qualidade de vida e prejudicando seu desenvolvimento escolar. Objetivo: avaliar a experimentação do álcool e os fatores associados entre os adolescentes brasileiros. Método: Trata-se de um estudo transversal, realizado pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar em 2019, com uma amostra de 159.245 adolescentes brasileiros. Foram ajustadas razões de prevalências entre variável experimentação de álcool e fatores de risco, estimadas pelos modelos de regressão de Poisson múltipla hierarquizados em blocos com variância robusta, ponderadas pelos pesos amostrais. Resultados: A prevalência ajustada da experimentação do álcool ponderada e intervalo de confiança de 95% da experimentação do álcool foi de 63,45% (IC95%: 62,88-64,02). As razões de prevalência ajustadas com as variáveis sociodemográficas, familiares, saúde mental, comportamento e hábitos de vida, todas apresentaram associação com a experimentação do álcool. As variáveis comportamento e hábitos de vida apresentaram as maiores razões de prevalências para a experimentação de drogas ilícitas (1,25) e relação sexual (1,50) e permaneceram associadas no modelo final, a maioria dos fatores dos blocos considerados, com significância estatística (p < 0,001). Conclusões: A prevalência entre os adolescentes brasileiros evidenciou-se elevada e associada aos fatores de riscos do estudo. A ocorrência desse fenômeno, que interfere no desenvolvimento físico e mental dos adolescentes, requer novos direcionamentos em políticas públicas.

Palavras-chave:álcool, adolescente, escolas, inquéritos epidemiológicos, fatores de risco.

Abstract: Introduction: Experimentation with alcoholic beverages by young Brazilians, in addition to harming brain development, also interferes with psychological aspects, interfering with their quality of life and harming their academic development. Objective: To evaluate alcohol experimentation and associated factors among Brazilian adolescents. Method: This is a cross-sectional study, conducted by the National School Health Survey in 2019, with a sample of 159,245 Brazilian adolescents. Prevalence ratios were adjusted between the alcohol experimentation variable and risk factors, estimated by hierarchical multiple Poisson regression models in blocks with robust variance, weighted by sample weights. Results: The weighted adjusted prevalence of alcohol experimentation and 95% confidence interval for alcohol experimentation was 63.45% (95%CI: 62.88–64.02). Prevalence ratios adjusted for sociodemographic, family, mental health, behavior, and lifestyle variables all showed an association with alcohol experimentation. The variables behavior and lifestyle habits presented the highest prevalence ratios for experimentation with illicit drugs (1.25) and sexual intercourse (1.50) and remained associated in the final model, most of the factors in the blocks considered, with statistical significance (p < 0.001). Conclusions: The prevalence among Brazilian adolescents was high and associated with the study's risk factors. The occurrence of this phenomenon, which interferes with the physical and mental development of adolescents, requires new directions in public policies.

Keywords: alcohol, adolescent, schools, epidemiological surveys, risk factors.

Resumen: Introducción: La experimentación con bebidas alcohólicas entre jóvenes brasileños no solo afecta el desarrollo cerebral, sino que también incide en aspectos psicológicos, que comprometen su calidad de vida y perjudican su rendimiento escolar. Objetivo: Evaluar la experimentación con alcohol y sus factores asociados en adolescentes brasileños. Método: Este estudio transversal se llevó a cabo mediante la Encuesta Nacional de Salud Escolar en 2019, con una muestra de 159245 adolescentes brasileños. Se calcularon las razones de prevalencia ajustadas entre la variable de experimentación alcohólica y los factores de riesgo mediante modelos de regresión de Poisson múltiple jerárquicos en bloques, con varianza robusta y ponderados por pesos muestrales. Resultados: La prevalencia ajustada ponderada de experimentación alcohólica, junto con un intervalo de confianza del 95%, fue del 63,45% (IC95%: 62,88-64,02). Las razones de prevalencia ajustadas por variables sociodemográficas, familiares, de salud mental, de comportamiento y de estilo de vida se asociaron con la experimentación con alcohol. Las variables de comportamiento y hábitos de vida presentaron las mayores razones de prevalencia para la experimentación con drogas ilícitas (1,25) y tener relaciones sexuales (1,50), y permanecieron asociadas en el modelo final, la mayoría de los factores de los bloques considerados, con significancia estadística (p < 0,001). Conclusiones: La prevalencia entre los adolescentes brasileños fue alta y se asoció con los factores de riesgo del estudio. La aparición de este fenómeno, que afecta el desarrollo físico y mental de los adolescentes, demanda nuevas direcciones en las políticas públicas.

Palabras clave: alcohol, adolescente, escuelas, encuestas epidemiológicas, factores de riesgo.

Introdução

O álcool é o principal componente das bebidas alcoólicas, sendo considerado uma substância psicoativa, com maior prevalência de experimentação entre adolescentes a nível mundial, com uma prevalência de 43% entre os adolescentes com mais de 15 anos, que declararam ter consumido bebidas alcoólicas nos últimos anos (1). No Brasil, 59,2% dos escolares da faixa etária entre 13 a 17 anos, em 2015 tinham experimentado bebida alcoólica (2). O álcool é considerado um dos problemas de maior relevância na saúde pública no mundo, principalmente entre os adolescentes, sendo tratada como uma questão de ordem internacional, devido a ser um produto que têm baixo custo, fácil acesso e de grande aceitabilidade social. As decorrências do seu consumo provocam problemas de saúde, de âmbito fisiológico, psicológicos e sociais. O consumo de álcool durante o período da adolescência provoca efeitos psicossociais negativos para a vida dos jovens e posteriormente na vida adulta, na qual estes efeitos, causam maiores danos biológicos e sociais (3).

Em estudo realizado no Brasil, com dados já validados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) nos anos de 2015 e 2019 identificou que houve aumento na experimentação de bebidas alcoólicas antes de 13 anos (30,6% em 2015 para 34,6% em 2019), neste trabalho ficou evidenciado elevadas prevalências de experimentação de álcool pelos jovens, mostrando que uma grande parte dos estudantes do Brasil se encontrava exposta a doenças evitáveis, resultado do uso e exposição à bebida alcoólica (4).

Nesse sentido, torna-se importante monitorar os indicadores de comportamento dos adolescentes, devido principalmente a sua escassez de estudos voltados à análises hierarquizadas da relação entre a experimentação do álcool e seus fatores de riscos à saúde de adolescentes brasileiros. Pesquisas sobre a experimentação do álcool entre os adolescentes são fundamentais para entender este grave problema e contribuir no delineamento e desenvolvimento de ações de políticas públicas de prevenção e promoção a saúde, as quais podem fomentar comportamentos saudáveis. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar a experimentação do álcool e os fatores associados entre os adolescentes brasileiros.

Métodos

Trata-se da análise de dados secundários do inquérito transversal da PeNSE (2019). A pesquisa foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde (MS). Participaram da pesquisa adolescentes com idade de 13 a 17 anos. Com uma amostra de 159245 adolescentes de 6612 turmas em 4242 escolas em todo o pais. Maiores detalhes do delineamento amostral podem ser encontrados em IBGE (2021) (5).

O desfecho investigado foi experimentação do álcool alguma vez na vida - avaliado pela pergunta: alguma vez na vida você tomou um copo ou uma dose de bebida alcoólica? Opções de respostas “sim” ou “não”. E as variáveis independentes foram agrupadas e analisadas em 4 blocos hierarquizados. O bloco I foi constituído por características sociodemográficas relacionadas ao sexo (masculino e feminino); raça/cor da pele (branca; preta; amarela; parda; indígena); escolaridade materna (sem escolaridade, ensino fundamental; ensino médio e ensino superior e não informou); tipo de escola (pública ou privada); região geográfica (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste). O bloco II foi composto pelo contexto familiar, abordou as seguintes variáveis: mora com sua mãe na residência (sim ou não); mora com seu pai na residência (sim ou não); pais sabem o que o escolar faz no tempo livre (nunca/rara vez/as vezes; ou a maioria das vezes/sempre); quantidade de dias que faltou às aulas sem autorização do(s) responsável(is) (nenhum dia; 1 ou 2 dias; 3 ou 5 dias; 6 ou mais dias). O bloco III foi constituído pelas variáveis da saúde mental: sentir-se solitário (nunca; rara vez/ às vezes ou na maioria das vezes/sempre); amigos próximos (não tenho ou um ou mais). E o bloco IV considerou as variáveis do comportamento e hábitos de vida: briga com arma de fogo (sim ou não); experimentação de drogas ilícitas (sim ou não); relação sexual (sim ou não); violência familiar (nenhuma vez nos últimos 30 dias; 1 a 5 vezes nos últimos 30 dias; 6 a 12 vezes ou mais nos últimos 30 dias).

A associação da variável dependente com as variáveis independentes dos quatro blocos, foi realizada conforme a estratégia de análises de modelos hierárquicos (6). Além disso, considerando que foi utilizado um estudo do tipo transversal, para ajustar as razões de prevalências entre a variável dependente com as independentes, foram utilizados modelos de regressão de Poisson simples e múltiplos com variância robusta, ambos ponderados com os pesos amostrais. Conforme realizado na análise estatística dos dados, primeiro foi efetuada uma análise bivariada entre a variável dependente e as variáveis independentes, considerando a razão de prevalência ajustada pelo modelo de regressão de Poisson simples com variância robusta, com seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).

Posteriormente, foram realizadas análises de regressão múltipla, entre a variável dependente e as variáveis independentes, com variância robusta hierarquizada em blocos, para ajustar as razões de prevalências, nestes modelos foram consideradas todas as variáveis que nos modelos simples apresentaram valores de p inferiores a 0,20 (p < 0,20). Em todos os modelos, para a variável ser estatisticamente significativas, foram considerados valores de . menores que 0,05 (p < 0,05). As análises foram realizadas no programa Stata versão 16.0 (Stata Corp., College Station, Estados Unidos), utilizando o modulo survey (svy) para amostras complexas.

O estudo foi aprovado na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), sob o parecer Conep 3.249.268, de 8.4.2019, que contou com o os respectivos termos de consentimento livre e esclarecido dos alunos que participaram da pesquisa (5).

Resultados

A prevalência ajustada da experimentação do álcool foi de 63,45% (IC95%: 62,88-64,02), observar que estes resultados não foram apresentados em tabela. As razões de prevalências ajustadas entre a experimentação do álcool e as variáveis independentes dos blocos considerados, são apresentadas na tabela 1. Estas razões, foram ajustadas pelos modelos de regressão de Poisson simples com variância robusta ponderados, com seus respectivos intervalos de confiança de 95% e valores de p. Nesta tabela, observa-se que todas as variáveis consideradas, no presente estudo, evidenciaram valores de p menores que 0,20.

Tabela 1
Experimentação do álcool, segundo características sociodemográficas, familiares, saúde mental, comportamento e hábitos de vida, em adolescentes do Brasil (PeNSE, 2019)
Experimentação do álcool, segundo características sociodemográficas, familiares, saúde mental, comportamento e hábitos de vida, em adolescentes do Brasil (PeNSE, 2019)






P: prevalência. RP: razão de prevalência estimada pelo modelo de regressão de Poisson simples robusta. IC95%: intervalo de confiança de 95%.
* Significante ao nível de 5%
** Razão de prevalências e intervalos de 95% de confiança (IC95%) estimados sob ponderações dos pesos amostrais.


No bloco I, as razões de prevalência ajustada evidenciaram maior significância nos escolares do sexo feminino (p < 0,001) da cor de pele parda (p < 0,001), pertencentes a escolas públicas (p = 0,004) e oriundos das regiões sul e sudeste do pais (p < 0,001). No bloco II, os estudantes, apresentaram maiores razões de prevalência entre a experimentação do álcool e as seguintes variáveis: estudantes que não moram com a mãe e/ou pai em suas residências, pais que raramente ou nunca sabiam o que seus filhos faziam no tempo livre, e adolescentes que faltaram às aulas sem aviso prévio em seis ou mais dias. No bloco III, mostrou maior razão de prevalência com a variável desfecho, na categoria sentir-se solitário na maioria das vezes, da variável saúde mental, com p < 0,001. No bloco IV as razões de prevalência de todas as variáveis mostraram associação significativa com a experimentação do álcool (p < 0,001). Observa-se que nestes últimos blocos as variáveis experimentação de drogas e relação sexual apresentaram as maiores razões de prevalências ajustadas (RPa** = 1,66 e RPa** = 1,64, respectivamente, conforme o mostrado na tabela 1).

As razões de prevalência ajustadas para a experimentação de álcool em relação às variáveis sociodemográficas, familiares, saúde mental, comportamento e hábitos de vida dos blocos em consideração estão apresentadas na tabela 2. Essas razões foram ajustadas por meio de modelos de regressão de Poisson múltipla com ponderação de pesos amostrais e robustez hierárquica nos blocos, incluindo os respetivos intervalos de confiança e valores de p.

Tabela 2
Associação da experimentação do álcool e variáveis consideradas no estudo, ajustadas pelo modelo múltiplo de regressão de Poisson hierarquizada em blocos, na população de adolescentes do Brasil, 2019
Associação da experimentação do álcool e variáveis consideradas no estudo, ajustadas pelo modelo múltiplo de regressão de Poisson hierarquizada em blocos, na população de adolescentes do Brasil, 2019











RP: Razão de prevalência ajustada.
* significante ao nível de 5%.
** Razão de prevalências ajustada ponderadas pelos pesos amostrais.


Os ajustes dos modelos isolados, ajustados por regressão de Poisson múltipla, com variância robusta são apresentados na segunda coluna da tabela 2. Os valores ajustados destes modelos, dos blocos com suas respectivas variáveis consideradas apresentaram associação com a experimentação do álcool, com valores de p estatisticamente significativos. Similarmente os ajustes dos modelos de regressão de Poisson múltipla com variância robusta hierarquizada em blocos apresentaram significância estatística em todas as variáveis dos blocos hierárquicos, evidenciando valores de . menores a 0,001 (p < 0,001), na maioria das variáveis. Estes modelos foram realizados primeiramente com as variáveis dos blocos I e II (modelo 1+2), seguido com o modelo 1+2, adicionando as variáveis do bloco III (modelo 1+2+3) e o modelo final foi constituído pelo modelo 1+2+3 acrescentado pelas variáveis do bloco IV (modelo 1+2+3+4). O mais relevante destas análises associadas ao desfecho, são as razões de prevalências das variáveis experimentação de drogas ilícitas e relação sexual, apresentadas na última coluna da tabela 2, referentes ao modelo final, com valores de 1,25 e 1,50, respectivamente, para estas variáveis.

Discussão

No presente estudo, os resultados evidenciam que dentre os estudantes respondentes ao inquérito, houve um aumento da prevalência de experimentação do álcool, destacando-se o sexo feminino, pertencentes as regiões Sul e Sudeste do Brasil. Não morar com a mãe e/ou pai e a falta de supervisão dos pais também esteve associada a experimentação do produto, sendo observada, que quanto menor a monitorização dos progenitores e ou responsáveis, maior a prevalência da experimentação ao álcool entre os jovens. Ficou evidenciado no estudo que a procura pelo álcool é maior entre os adolescentes que se sentem solitário na maioria das vezes. Houve diferentes fatores associados a experimentação do álcool no comportamento e hábitos de vida, ter experimentado drogas ilícitas, prática de relação sexual, e violência familiar, foram significativamente associadas à maior prevalência da experimentação do álcool.

Os achados deste estudo sobre a experimentação do álcool pelos adolescentes no Brasil foram semelhantes aos encontrados em estudos nacionais de desenho transversal (7,8). Os resultados deste estudo sobre a experimentação do álcool foram maiores que os evidenciados em outros países, estudo Global School-Based Student Health Survey (GSHS), incluindo indivíduos jovens de 12 a 15 anos das regiões que integram a Organização Mundial de Saúde (África, Américas, Europa, Mediterrâneo oriental, Pacífico ocidental e sudeste asiático), foi encontrada prevalência de uso de álcool nos últimos 30 dias de 15,7% (12,3-19,5) (9).

Houve aumento da prevalência da experimentação de bebida alcoólica para o sexo feminino, mostrando que as adolescentes estão experimentando álcool maior número que os meninos. Resultados semelhantes foram encontrados em território nacional (2,10). As adolescentes estão mais vulneráveis a divergências familiares, estresse e depressão, essas características, podem contribuir para a experimentação do produto, favorecendo a gravidez precoce, agressões físicas e psicológica (11). Quanto ao contexto familiar, não morar com mãe e/ou pai; pais sabem o que escolar faz no tempo livre e quantidade de dias que faltou às aulas sem avisar, mostraram associados a experimentação do álcool. Estudos mostram que para as meninas, houve um impacto negativo para experimentação do álcool, que foi maior na ausência de um ou de ambos os pais (7). Isso sugere um distanciamento entre os adolescentes e seus pais.

Para se ter um efeito protetor para experimentação do álcool entre os adolescentes, os estudos demostram que a prevenção ocorre principalmente com a convivência e a coesão familiar, assim como a participação conjunta de atividades com a família, ou seja, a família é essencial nesta fase para se evitar que os jovens se tornem um usuário do álcool (7,10).

Relacionado aos atributos familiares, estudos mostram que aqueles adolescentes que referiram faltar às aulas sem comunicar o fato aos seus pais sofreram agressões físicas e psicológicas com mais frequência (12). Escolares que relataram solidão também experimentaram álcool com maior frequência. Estudos evidenciam que sensação de solidão nesta fase da vida, possuem uma relação negativa com o uso de substâncias nocivas à saúde e que jovens solitários são mais vulneráveis a problemas relacionados ao alcoolismo. Sentimentos e fatores como solidão, ansiedade, ausência de amigos próximos, ideação e tentativa de suicídio, podem indicar que os adolescentes procurem a bebida alcoólica como um refúgio para enfrentar as situações de sofrimento mental, ocasionado neste período da vida, desta forma prejudicando a sua qualidade de vida (13-15).

Entre os adolescentes que experimentaram álcool a prevalência foi maior para os jovens que praticaram relações sexuais. Pesquisas com escolares realizada no Brasil, verificou que adolescentes que experimentaram uma dose de bebida alcoólica tiveram 1,41 vezes mais prevalência de relações sexuais (16). Os efeitos nocivos do álcool na fisiologia dos jovens ocasionam desinibição e podem encorajar o adolescente a ter atitudes que, caso estivesse consciente, não os faria (17). A experimentação do álcool também esteve associada a experimentação de drogas ilícitas, evidenciando que essas substancias são fatores de risco para a presença de violência familiar, participação em conflitos entre os jovens, e conforme os achados este risco aumentou ao longo dos cinco anos. Esse fato pode indicar famílias monoparentais e/ou a existência de conflitos familiares, essas as características familiares são determinantes para o envolvimento de adolescentes com bullying (18,19).

Destacam-se algumas limitações do estudo como, a utilização de métodos autorreferidos, através dos questionários, que pode gerar de viés de informação. Por outro lado, esse estudo abrange todo território nacional e evidencia os fatores de riscos à experimentação do álcool, logo, seus achados podem ser aplicados utilizados por todas as regiões brasileiras, na fundamentação de políticas públicas e na revisão de estratégias de cuidado em saúde.

Conclusões

O estudo analisou dados de inquérito com adolescentes mais completo do país, desta forma foi possível demonstrar a gravidade do problema que os jovens brasileiros estão expostos, e, com isto, o crescente risco há situações de vulnerabilidade. Foi evidenciada a prematuridade da experimentação ao álcool, a extensão e os riscos a que os adolescentes estão vivendo diariamente.

Considerando que está droga lícita está associada a outros diversos fatores de risco para a saúde dos jovens, acarretando prejuízos, principalmente futuros, torna-se importante políticas públicas de saúde mais eficazes, voltadas para esta população no intuito de diminuir estas prevalências que se agravam cada vez mais na sociedade.

Financiamento

O presente trabalho contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-Brasil (Capes), código de financiamento 001. Bolsa de doutorado concedida a Elisângela Antônio de Oliveira Freitas.

Referências

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Autor notes

a Autora para correspondência: Elisangela Antonio de Oliveira Fre. Correio eletrônico: eliaofreitas@gmail.com

Informação adicional

Como citar: Freitas E, Espinosa M. Experimentação do álcool entre adolescentes brasileiros segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar. Univ. Med. 2025;65. https://doi.org/10.11144/Javeriana.umed65.eaab

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